Pacientes com xerostomia: qual é a melhor conduta odontológica?

A xerostomia, caracterizada pela sensação de boca seca devido à redução ou ausência de saliva, é um desafio significativo no contexto odontológico, demandando uma abordagem cuidadosa e especializada. 

Segundo dados do Instituto Federal do Paraná, essa condição afeta aproximadamente 20% da população idosa, sublinhando sua prevalência em um segmento vulnerável da sociedade. 

Além disso, a xerostomia frequentemente se manifesta como efeito colateral adverso em pacientes submetidos a regimes farmacológicos específicos, incluindo, mas não se limitando aos medicamentos psiquiátricos como antidepressivos e ansiolíticos. 

Tratamentos oncológicos, particularmente a quimioterapia e a radioterapia, também estão associados ao desenvolvimento dessa condição.

Para saber mais sobre a conduta odontológica para pacientes com xerostomia, prossiga com a leitura.

Xerostomia: fisiopatologia e etiologia

A compreensão da fisiopatologia e da etiologia da xerostomia é fundamental para o desenvolvimento de estratégias de manejo eficazes.

A produção de saliva é um processo complexo, iniciado pelo estímulo da mucosa oral, que ativa os núcleos salivares localizados na medula. 

Essa ativação desencadeia uma resposta eferente, na qual os impulsos nervosos promovem a liberação de acetilcolina nos terminais nervosos das glândulas salivares. 

A acetilcolina, por sua vez, interage com os receptores muscarínicos (M3) nas glândulas, induzindo uma elevação na produção e no fluxo de saliva. 

Além dos estímulos diretos, os impulsos medulares responsáveis pela salivação podem ser influenciados por conexões corticais decorrentes de outros estímulos, como o paladar, o olfato e até mesmo a ansiedade.

xerostomia

Causas da xerostomia

A xerostomia pode ser induzida por diversas causas, sendo as mais comuns o uso de medicamentos, a irradiação da região de cabeça e pescoço e distúrbios sistêmicos. 

Os medicamentos representam a principal causa de xerostomia. Dentre eles, destacam-se os anticolinérgicos, fármacos antiparkinsonianos, antineoplásicos (utilizados em quimioterapias), anti-hipertensivos, ansiolíticos, antidepressivos e o uso ilícito de metanfetamina, que além de reduzir a produção salivar, pode levar a graves problemas dentários devido à combinação de bruxismo, consumo de bebidas açucaradas e má higiene oral.

A radiação, especialmente durante o tratamento de câncer de cabeça e pescoço, pode causar dano direto às glândulas salivares, resultando em xerostomia grave e, muitas vezes, permanente, dependendo da dose de radiação recebida. Mesmo doses baixas podem levar a uma secura temporária da boca.

Distúrbios sistêmicos como a síndrome de Sjögren, HIV/AIDS, diabetes descompensado, entre outras doenças, também estão associados à xerostomia, embora em menor frequência quando comparados aos fármacos e à radiação. 

O tabagismo é outro fator que contribui para a diminuição da salivação, exacerbando os sintomas da xerostomia.

O entendimento detalhado dos mecanismos fisiopatológicos e das causas da xerostomia é essencial para o diagnóstico correto e o desenvolvimento de intervenções terapêuticas eficazes..

Conduta odontológica para pacientes com xerostomia: 7 orientações

Para o manejo odontológico de pacientes com xerostomia, é essencial adotar uma abordagem holística que inclua:

  1. Avaliação completa: examinar cuidadosamente a cavidade oral para identificar sinais de secura, avaliar o fluxo salivar e detectar cáries ou infecções;
  2. Educação do paciente: orientar sobre a importância da hidratação e da estimulação salivar, além de evitar substâncias que agravem a secura;
  3. Higiene oral rigorosa: instruir sobre a escovação frequente com creme dental fluoretado, uso de fio dental e enxaguantes bucais especiais;
  4. Prevenção de cáries: aplicar flúor tópico e selantes dentários para proteger contra cáries;
  5. Manejo de infecções: identificar e tratar prontamente infecções orais, especialmente por Candida albicans;
  6. Terapia adaptativa: considerar substitutos salivares ou estimulantes salivares sistêmicos para pacientes que necessitam de suporte adicional;
  7. Monitoramento contínuo: realizar acompanhamento regular para ajustar tratamentos e colaborar com profissionais da saúde para abordar causas sistêmicas.

Esse plano de cuidado visa melhorar a qualidade de vida dos pacientes, minimizando complicações orais associadas à xerostomia.

Tratamento da xerostomia: conheça as principais opções

O tratamento da xerostomia foca em gerenciar suas causas, quando identificáveis, e minimizar seus sintomas. 

Prioriza-se a interrupção ou substituição de medicamentos causadores da condição, sempre que possível. 

Para casos onde a medicação não pode ser alterada, ajustes nos horários de administração ajudam a reduzir o impacto da xerostomia, especialmente à noite, quando o risco de cárie é maior. 

Protetores bucais noturnos com gel de flúor podem ser eficazes na prevenção de cáries para esses pacientes.

A hidratação oral antes da ingestão de medicamentos e a escolha por formas farmacêuticas que facilitem a deglutição são recomendadas. 

Além disso, deve-se evitar medicamentos que agravam a secura oral, como descongestionantes e anti-histamínicos. 

Para o controle sintomático, fármacos colinérgicos como cevimelina e pilocarpina estimulam a produção salivar

Enquanto a cevimelina apresenta menores efeitos cardíacos e uma meia-vida mais longa, a pilocarpina requer cuidado devido a possíveis contraindicações e efeitos colaterais.

Quando esses medicamentos forem recomendados ao paciente, recomenda-se uma avaliação multidisciplinar. Além do dentista, médicos especialistas podem solicitar exames e avaliar o paciente para realmente decidir se é indicado prescrever os medicamentos ou não.

Métodos não farmacológicos incluem a ingestão de líquidos sem açúcar e o uso de chicletes contendo xilitol e substitutos salivares. 

Manter uma higiene oral meticulosa é crucial, com escovação regular, uso de fio dental e enxaguantes bucais com flúor. 

Consultas dentárias regulares para limpeza e aplicação de flúor ajudam na prevenção de cáries. 

É essencial evitar alimentos e bebidas que possam irritar a boca ou contribuir para o aumento do risco de cárie, especialmente antes de dormir.

A xerostomia é uma condição complexa, mas que pode ser os seus sintomas amenizados. Juntos, dentistas e pacientes devem escolher a melhor abordagem para cada caso.

Saiba mais em nosso artigo: “Boca seca (xerostomia): causas sintomas e tratamentos

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